O baile de 68
(do projeto de residência Sonhos Sujos no Sobrado da Ladeira)
Letícia Cardoso, 2017-2018
Fotografia: José Rafael Mamigonian
Desenho de som: Diogo de Haro
Ferida no baile, subiu trôpega a ladeira no amanhecer de 03 de janeiro de 1968. Torceu o pé quando a fita vermelha de veludo carmim deslizou pelo vestido de seda e enrolou no salto do sapato prateado. Engoliu a dor riscando a parede com palavras.
A palavra esmagada entre o reboco e a parede branca lembrava o baile.
O baile de 68
O som da borracha roçava o cal da parede e regurgitava a palavra lavada com cuspe. Adormeceu espirrando no ronco noturno o musgo verde e acordou com sonhos sujos.
O baile escondido no álbum mofado dentro do baú apoiado na parede de pedra da casa de adobe abaixo da janela que range.