conversa de ar / pelo telefone
Projeto participante da exposição on-line com uma pedra atrás da orelha, de 25/11/2020 a 25/02/2021, Alfaiataria, Curitiba/Brasil – www.alfaiataria.art.
Proposição-transmissão de ligações de artistas da equipe da anecoica para o espaço Alfaiataria.
A transmissão das ligações ocorreu na abertura da exposição com uma pedra atrás da orelha, no dia 25 de novembro, às 19h30, em https://www.instagram.com/alfaiataria_. Registros:
Participaram: Alfaiataria; Anna Stolf; Bethânia C. Hardt; Carolina Moraes; Claudio Moreira; Daniela Avelar; Djuly Gava; Fran Favero; Julia Amaral; Laura V. Malmegrin; Manuela Valls; Marcia Franco; Marcos Gorgatti; Mariana Berta; Matheus Abel; Michal Kirschbaum; Patrícia Galelli; Priscila Costa Oliveira; Rachel Lima; Raquel Stolf; Silfarlem Oliveira.
/ O título do projeto partiu da proposição Air Talk (1967) de Yoko Ono, de sua publicação Grapefruit: A Book of Instruction and Drawings.
(roteirinho)
1 – o ar nos liga
Raquel Stolf, 2020
Ligação em que se fala um fragmento da proposição Air Talk (1967) de Yoko Ono, de Grapefruit.
2 – O tempo entre as coisas
Carolina Moraes e Silfarlem Oliveira, 2020
Uma entrega de ar feita, de uma em uma, no ritmo das coisas que caem. UMA mais UMA e o tempo entre as coisas. Olhando fixamente para um Ipê esperamos, respiramos e soltamos UMA a cada UMA (voz e voz). Num dia está cheio no outro vazio. Enquanto isso, a cada ciclo de floração, uma ligação é feita para um número qualquer ou um número programado. “Aqui é o tempo entre as coisas. Temos UMA entrega de ar….uma…..uma……………….uma.uma..uma…”
3 – reconectando
Manuela Valls, 2020
Leitura em voz alta de pensamentos acerca da virtualidade dos tempos pandêmicos.
4 – Uma pilha de linguagem
Matheus Abel, 2020
A partir de A heap of language de Robert Smithson, realizou-se um movimento de tradução da pilha de linguagem e sua leitura, formando assim uma pilha sonora de linguagem.
5 – miolo de letra
Anna Stolf, 2020
Quais as possibilidades de um encontro com todas as letras de um texto? Uma letra com perna, braço, orelha e olho poderia caminhar, gesticular, ouvir e olhar? Como se sustenta a espinha de uma letra s? Como se dá a escuta pela orelha de um g? O que vê o olho de um e? Será que tem Q que abana a cauda quando está feliz? A lágrima de um r seria de raiva? O que se passa no oco de uma letra o? Poderia uma letra se escrever?
6 – página página amassada (verso)
Claudio Moreira, 2020
7 – Plantando Escuta #4
Priscila Costa Oliveira, 2020
“O alfabeto é um convite a uma arte combinatória em que tudo é, ao mesmo tempo, já dado e ainda por vir”
PLANTANDO ESCUTA #4 é uma peça sonora da série O germinar das palavras que busca aguçar o ouvido adulto à escuta do linguajar das crianças – numa relação de aproximação que nos leva a navegar o mundo pela palavra e seus significados. A oralidade como um espaço autogerativo, e labiríntico, que permite novas configurações e combinações, uma extensão ou subversão da própria linguagem. O reconhecer das letras pela Maria Flor de 4 anos se dá numa ordem fora da ordem alfabética onde vão sendo germinadas/plantadas as letras e suas significâncias nonsense que aos poucos organizam-se. É no nascer do linguajar que o mundo de combinações vão tomando sua (des)forma alfabética. Criando outros jogos combinatórios. Como manter um alfabeto criança? Em qual momento perdemos o eu-alfabeto? A sequência deve ser mais importante que o ritmo?
8 – “todas as conversas são negociações de desejos”
Djuly Gava, 2020
podem as aves e aviões conversarem? dentro do silêncio de asas que voam, mas que também pousam, as negociações dos desejos desta conversa de ar também é de quem escuta o silêncio da sua própria voz.
9 – “Estou bem, mas poderia estar um pouquinho melhor”
Daniela Avelar, 2020
Uma lista de motivos que mostram que estou bem, mas poderia estar melhor, escrita a partir de Lydia Davis.
10 – sabedoria ardente
Rachel Lima, 2020
Sra. Dusheiko lembra o meu corpo, dócil e manso, de reagir, agir e responder sob a sabedoria ardente da ira.
(fragmentos de Sobre os ossos dos mortos, Olga Tokarczuk)
11 – acima, adentro, adiante
Marcia Franco, 2020
conversa e coreografia do ar:
da evaporação, elevando
da inspiração, preenchendo
da expiração, avançando
12 – Banho de ruína
Patrícia Galelli, 2020
Leitura do meu poema Banho de ruína, publicado anteriormente no Jornal Rascunho nº 237, de Janeiro/2020, na coluna Poesia Brasileira, de Mariana Ianelli. Escrito em novembro de 2019, quando o que era ruído despontava em ruína pelo desgoverno brasileiro. Quando em Vinto, na Bolívia, tinham sequestrado a prefeita Patricia Arce, espancado Patricia Arce, cortado o cabelo de Patricia Arce, jogado tinta vermelha em Patricia Arce, uma mulher cercada por homens, apenas homens – uma mulher descalça e humilhada por quilômetros. Um embrulho que não coube na linguagem. Como não coube também o óleo no litoral brasileiro e como não cabe o fogo nos biomas amazônia, pantanal, cerrado e mata atlântica, que se somou ao pandêmico 2020 – acaso objetivo do fogo que já estava no texto: o mal é um hábito coletivo mais do que a morte.
13 – s/t
Bethânia Carolina Hardt
(voz emprestada: Claudio Moreira)
14 – guada
Laura V. Malmegrin e Claudio Moreira, 2020
Vozes de línguas recortadas e in-complementares. Desdobradas em gagueira e engasgo.
15 – turismo semântico nº 7 – peça para um(a) turista fotografar
Marcos Gorgatti, 2020
16 – Amanhã Pode
Michal Kirschbaum, 2018-2020
Amanhã Pode é um trabalho impresso que aqui propus também como leitura. O texto se apresenta como lugar de conversa em relação ao horizonte como lugar de incerteza. Uma coleção de frases recortadas de programas de previsão do tempo e imprevisão constante à espera de precipitações e diversas frentes.
17 – com uma pedra atrás da orelha, [versão 1]
Raquel Stolf, 2020
18 – sapo costurado
Julia Amaral, 2020
em boca fechada não entra mosca
19 – ‘orientação educacional III’
Mariana Berta, 2020
em 2017 atravessei a rua da frente da agropecuária e da loja do real e proferi uma aula ao monumento erguido em homenagem ao colonizador, o conteúdo da aula era a Lei de Terras de 1850, lei que estabeleceu a compra e venda como meio oficial de ocupação territorial do Brasil, regulamentando a privatização das terras e introduzindo o projeto colonial de ocupação pelo imigrante europeu pobre vindo, em sua enorme maioria, do refugo social da revolução industrial feita na europa a partir da invasão e exploração sistemática das Américas e África.
frente a frente, ele me olhava com aparência pacata e taciturna de quem fala apenas a língua dura e sem frestas do trabalho, senti que as palavras que soprava em sua direção, topavam com seu bruto material e não encontravam nenhum poro por onde entrar escorrendo pela sua pele de bronze e de medo, levadas pelo vento e rasgadas pelo fluxo abrupto dos caminhões carregados de grãos e de pintinhos e porcos recém nascidos que seguiam para o confinamento nas granjas do entorno da cidade…
em 2020, uma semana antes do Brasil paralisar por conta do covid-19 e as pessoas entrarem em regime de confinamento como os frangos e porcos, decidi que recuperaria essa aula e as palavras que vazaram.
publicamente, diante de um espelho enunciei para mim mesma, filha da colônia e das relações promovidas pela Lei de Terras, a mesma aula, mesmas palavras.
para a proposta ‘com uma pedra atrás da orelha’ resolvi lidar com o que sobrou de todas essas tentativas de dialogo entre nós, eu, as palavras, o monumento ao colono e sua escuta – venho percebendo como ele (a gente) aprende as coisas, e quanto em vão podem soar palavras sem língua. resolvi radicalizar essa experiência de escuta e fala através de uma leitura automática por meio do google tradutor.
20 – Visagem
Fran Favero, 2020
Um vulto ou uma visagem é algo que aparece, flutua e desaparece no ar. Antonio Dalpiva (Seu Piva) conta uma história de visagem avistada no interior do Paraná nos anos 1950.